Festa de Boas Vindas

Minhas falas-Outras Falas-Narração-Pensamento

"Posso não vencer, mas não serei culpada pela derrota."

Festa de Boas-Vindas

    Demorei menos do que eu esperava para sair do chalé. Todos dizem que meninas demoram muito se arrumando, mas nunca acreditei nisso. Sempre fui meio contraditória. O primeiro passo foi para mim o pior de todos: o vestido. Eu não sabia o que usar. Procurei muito em meu armário tentando achar o que vestir quando finalmente encontrei algo perfeito. Um vestido cor de vinho longo, tomara que caia, e ao chegar na coxa da perna direita descobri que ele tinha um corte longo e profundo, como vi muitas vezes celebridades usando em eventos famosos. Gostei disso. Quando me olhei no espelho, a primeira coisa em que pensei foi: “Eu preciso de um salto.” E então parti para o segundo passo: o sapato. Não foi difícil encontrar, até porque não tenho muitos sapatos. Um salto preto, comum, simples, mas mesmo assim era encantador. O terceiro passo, pra mim o mais fácil de todos, foi o cabelo. Tudo o que eu fiz foi jogar pro lado e fazer uma trança, meu penteado tradicional. Prendi algumas presilhas brilhantes nele, pra dar um toque especial. Me olhei no espelho outra vez para fazer a maquiagem. Batom vermelho, sombra escura, cílios esticados ao máximo, e o mais importante: o sorriso no rosto. Eu estava pronta, perfeita, em menos de uma hora.
    Saí do chalé de Ares (é, Ares. Também fiquei surpresa quando descobri isso. Inacreditável!) e comecei a caminhar em direção à Casa Grande. Ao longe avistei a construção azul, mas só vi a tenda branca quando me aproximei mais um pouco. Era enorme e a música podia ser ouvida dos chalés. O interior era lindo, puffs em um canto, mesas arrumadas, pista de dança e um pequeno bar com um sátiro de smoking dando uma de barman. Ri ao vê-lo tentando preparar uma bebida. Sempre gostei muito de dançar, então fui direto à pista de dança gastar o salto um pouco. Dancei umas duas músicas quando vi uma garota recostada perto da área dos puffs. Me aproximei e a vi com um pouco mais de clareza. Vestido preto, jaqueta vermelha, botas de combate, maquiagem leve. Beleza estonteável. Gostei dela logo de cara. Decidi arriscar e perguntei:
    - Oi. Qual é o seu nome?

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    Antes da garota responder, um rapaz se aproximou. Ele estava usando uma camisa cinza de mangas longas, uma calça jeans e All-Stars surrados. Ele era bonito e não ligava para isso. Ele sorriu e disse:
    - Olá meninas, me chamo Nathan e você deve ser roxinha e você pretinha. – Ele apontou pra mim e depois pra garota ao meu lado.
    - Olá, Nathan. – respondi educadamente – Eu sou Abby e você é o engraçadinho.
    Ri um pouco ao fazer esse comentário, e pelo visto ri sozinha. Mas não liguei, gosto de rir. Só porque sou filha do deus da guerra não significa que tenho que ser ranzinza e ignorante com todo mundo. A festa estava bombando, vários semideuses já haviam entrado, muitos estavam na pista de dança. A música aumentava a cada segundo, ficando cada vez mais enérgica.
    - Que tal se a gente sair desse canto e dançar um pouco? – perguntei.
    E, antes de ouvir seus protestos, puxei os dois para a pista de dança.

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    Os dois não protestaram, pois provavelmente sabiam que eu era forte e não pararia de puxá-los. Começamos a dançar na pista de dança umas 3 músicas. Nathan dançava de um jeito engraçado, mas podia ver que ele estava se divertindo pelo grande sorriso em seu rosto. Sorri também. Ele era diferente, e eu gosto de pessoas diferentes. Um tempo depois, ele perguntou algo:
    - Então, vocês sabem de quem são filhas? Estão aqui a muito tempo?
    - Bom, eu estou aqui há 5 dias, eu acho. Descobri meu progenitor divino andando espontaneamente no acampamento. Estava indo à Casa Grande pois Quíron havia me convocado e quando entrei no campo de vista do centauro ele se assustou e eu não sabia porque. Ele olhava fixamente um ponto acima de minha cabeça. Quando olhei pra cima, havia uma pequena cabeça de javali vermelha, parecia mais um holograma. Eu não conhecia absolutamente nada sobre aquele símbolo e o que ele representava na minha vida, mas entendi automaticamente que eu sou filha do deus da guerra. Ares.

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Depois de minha pequena “história de vida”, acabei descobrindo que o nome da garota era Rosemarie. Nome bonito, diferente, adoro coisas diferentes. Decidi deixar Rose e Nathan conversando e ir ao bar um pouco. Quando cheguei, o sátiro que estava dando uma de barman virou-se para mim e perguntou:
- O que vai ser, docinho? – ele sorriu de um jeito desajeitado, mas fofo.
- Qualquer coisa que tenha morango e nada de álcool, por favor! – tentei sorrir também para animá-lo.
Ele piscou para mim e foi procurar os morangos. Enquanto eu o via jogar copos para cima e misturar coisas que eu não sabia dentro de um pequeno aparelho, parei um pouco pra refletir. A primeira coisa em que pensei foi: “O que você está fazendo, Abby?”
Eu não sabia como responder a isso. Fazendo amigos, talvez? Mas essa não era a coisa certa a fazer. Amigos. Como se isso fosse possível pra uma filha de Ares. Cresci ouvindo minha mãe dizendo que eu não podia ter amigos, que amigos não existem. Que amigos são as únicas pessoas em que você não pode confiar, pois eles serão os primeiros a te dar um empurrão. Eu sempre fui uma pessoa durona, que encara tudo com um “dane-se”. Sempre afastei qualquer um que chegasse perto de mim. Amigos são conto de fadas. Cresci com esse pensamento, e acho que será muito difícil mudá-lo. A única pessoa em que você pode realmente confiar é você mesma.
Com tudo isso em mente, decidi me distanciar um pouco deles para não afastá-los, como eu faço com todo mundo. Peguei a bebida e saí da tenda, sentando em um pequeno tronco olhando o céu cheio de estrelas. Estava lindo. Cheio de pontos brilhantes. Eu também confio nas estrelas. Mesmo que você não as veja, sabe que elas estão lá, olhando pra você. Elas são minhas únicas amigas. As únicas que confiam em mim o bastante para não serem afastadas por minha burra, estúpida e idiota personalidade. Fiquei lá, olhando minhas melhores amigas brilharem com uma expressão de desânimo no rosto.

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Depois de encarar as estrelas, percebi alguém chegando. Era Rosemarie. Ela sentou perto de mim e disse:
- Sabe você não precisa fugir. Aqui ninguém vai te julgar ou coisa assim. Não sou boa com amizades. Nunca fui. Mas quando as pessoas tentam fazer amizade comigo, não deixo elas simplesmente fugirem.
Eu ri, dessa vez de verdade. Gargalhei alto. Não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo.
- Fugir? Acha que é isso que estou tentando fazer? Tenho uma notícia, filha de Hades. Você está errada. Eu não estou fugindo, não fujo de nada. Não sou uma covarde. Apenas acho que eu não deveria construir uma amizade. Já aprendi muito tentando fazer isso e no final, ela simplesmente desmoronou em cima de mim. E não quero ser machucada ou machucar alguém de novo. Eu afasto todos que tentam chegar perto de mim e não quero fazer isso com vocês. Não posso fazer isso com vocês. – respondi em um tom um pouco mais alto. Olhei para o rosto de Rosemarie e percebi em como ela parecia com o pai. Anti-social, botas de combate em uma festa. E então percebi o que eu deveria fazer.
Eu me levantei, tirei o salto e corri. Sem dizer mais nada. Deixei os dois lá, sentados. Meu destino? O chalé de Ares. Chegando lá, me olhei no espelho e me analisei. Vestido longo? Salto alto? Essa definitivamente não sou eu. Tirei o vestido e fui na direção do meu armário. Achei uma blusa cropped preta com um número na frente, meu número da sorte, 23. Peguei um short jeans surrado e All-Stars pretos. Coloquei os dois e me olhei no espelho novamente. Aquelas sim eram minhas roupas. Tirei a trança do meu cabelo e deixei ele solto. Deixei a maquiagem, até porque eu a fiz perfeitamente e não queria estragar minha obra de arte.
Não queria deixar Rosemarie preocupada, por mais que eu ache que ela não tenha se preocupado tanto assim, então fiz isso o mais rápido que pude. Por fim, peguei uma jaqueta de couro preta e saí do chalé. Lá fora fazia frio com aquela blusa, então vesti a jaqueta. Estava pensando em como seria ter uma amiga de verdade. Parecia legal. Talvez seja hora de mandar um “dane-se” no passado e começar a se preocupar com o futuro. Eu estava decidida. Iria tentar uma amizade com ela. Comecei a correr em direção a tenda me perguntando se ela estaria no mesmo lugar em que a deixei.

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Ao conseguir voltar a tenda, encontrei Rosemarie no mesmo lugar. Não sabia o motivo, mas me peguei sorrindo. Ela estava ali. Não fugiu de mim, não me achou maluca. Ela ficou. Me esperou. De algum modo, sabia que eu iria voltar.
Finalmente, ela olhou pra mim. Eu ainda estava sorrindo.
- Acho que essa sou eu. – disse eu, gesticulando para minhas roupas e meu cabelo. – Essa definitivamente sou eu.
Percebi que ela estava querendo falar algo, então não aguentei e perguntei:
- Você quer dizer algo?
E fiquei ali, esperando minha quase amiga responder.

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Depois de ouvir o que Rose tinha a falar, não tive tempo de pensar em uma boa resposta. Nathan já estava nos puxando para a pista de dança. Ele começou a dançar loucamente e eu fiquei ali, parada, sem saber como me mover. Eu não dançava, pulava, então depois que conheci os dois fiquei um pouco envergonhada de “pular” com eles. Eu estava me mexendo de um lado para o outro como um boneco. De repente, minha música favorita começou a tocar. Não consegui me conter, eu tinha que dançar. Então comecei a dançar como uma doida, fazendo movimentos que nem eu conhecia.
- O que acham desse acampamento? – uma voz familiar me tirou da minha curtição, mas continuei dançando. Era Nathan.
- Bom, eu estou aqui há apenas 5 dias, então não sei se minha opinião conta muito. Eu gosto daqui. Os chalés são modernos, atualizados, amo morangos, são minha paixão. Então, eu amo aqui. É como uma segunda casa pra mim!
Sorrio ao terminar de falar.

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